sábado, 12 de março de 2011

Amor, eu vou ali. Ali na Portela.


Quando liguei do trabalho para a minha casa, e, durante a conversa, minha patroa soltou um “amor, eu vou ali”, juro que não vi maiores problemas. Imaginei que ela fosse comprar cigarros, ir à casa da avó ou – no pior dos meus pesadelos – no máximo visitar uma velha amiga.

Ao chegar em casa, cansado da labuta, sento-me ao sofá para assistir televisão, ciente da missão profissional cumprida e ansioso por esperar o retorno de minha digníssima esposa. Até que o repórter do RJTV me pôs a par da veracidade dos fatos.

Na verdade, o enigmático “Amor eu vou ali” – dessa vez já com a maiúscula inicial que lhe cabe e, por um descuido dos fundadores, sem a vírgula após o vocativo – tratava-se de um bloco de carnaval que, para alegria dos foliões e desgosto dos maridos ciumentos, arrastava uma multidão pelas ruas de um distante subúrbio carioca.

Confesso que ao descobrir tal informação só pensei em duas coisas: primeiro, em morrer; segundo, em matá-la. Não sei se exatamente nessa ordem. O fato é que não matei ninguém, muito menos morri – pelo menos no sentido literal dos termos.

Duas doses de prozac depois, eu pude analisar a situação com calma, e vi que mais uma vez só me restavam duas opções: sofrer em casa ou sambar na Portela...

Ah, minha Portela! Tu que tantas vezes embalastes meus sonhos, tiraste-me o canto para defender teu pavilhão, tiraste-me os tostões para vesti-la de gala...

Ah, minha Portela, tu que me puseste às lágrimas, por alegria e dissabor, ensinaste-me o que é o amor através de teus versos, tu de tantos carnavais...

Tu, minha Majestade, que me faz esperar o ano inteiro, ano após ano, apenas para vê-la cobrir a avenida de azul e narrar para nós mais um enredo vencedor...

Tu que carregas o espírito de uma águia, a deslumbrar o mundo quando fala das coisas do coração;

Tu da porta-estandarte de pés descalços, das rainhas desnudas, que arrancam o sangue das mãos e vísceras de seus ritmistas;
Tu que manifestas coisas que, sei-lá-não-sei, na alma de suas baianas, levando-as a bailar em um gostoso girado...

Tu, ó deusa, dos foliões que brincam em suas alas, das tantas Tias que te temperam com amor, do calor das passistas e elegância de teus compositores.

Ah, minha Portela, obrigado, minha Portela querida, tu salvastes minha vida!

Um comentário:

  1. "Eu já volto não demoro, Meu Amor, eu vou ali...
    Não se amarre, não se zangue...
    Eu só vou me divertir. "

    ResponderExcluir